Programa de diversificação econômica de Saibadela

Invertendo tendências

Programa de diversificação econômica de Saibadela

Coordenação: Núcleo Econômico


Uma triste realidade

Sendo um bairro rural afastado de grandes centro urbanos, Saibadela compartilha a sina de muitas outras comunidades brasileiras, que encontram-se isoladas e abandonadas à própria sorte. Mais do que pela distância, tal isolamento se dá pela falta de acesso, tanto aos serviços sociais e assistenciais mais básicos, que deveriam ser garantidos pelo poder público, quanto aos oferecidos pela iniciativa privada.

Não por acaso, Saibadela integra o grupo de comunidades que apresentam os piores índices de desenvolvimento humano do estado de São Paulo, questão que vem sendo trabalhada pela AFA através de seu programa de integração comunitária.

Sua principal atividade econômica é a agricultura familiar, cuja produção limita-se às monoculturas da banana e principalmente da pupunha, palmeira que, embora tenha sido introduzida a menos de duas décadas, atualmente é o cultivo dominante.

Em nossas pesquisas preliminares, que carecem do aprofundamento que receberão em fases subsequentes, apontam para alguns fatores nos ajudam a compreender melhor este momento de expansão da lavoura de pupunha e queda da de banana.

O alimento básico da Mata Atlântica

O primeiro deles diz respeito à outra palmeira, a Juçara, considerada espécie chave para a conservação da Mata Atlântica por estar na base de sua cadeia alimentar. Outrora abundante, hoje a palmeira Juçara está em perigo, com alto risco de extinção a curto prazo.

O Tucano-de-bico-preto é um dos grandes dispersores de sementes da floresta

Sua preservação é um dos temas principais do programa de regeneração ambiental e monitoramento da biodiversidade da AFA.

Dela se alimentam os principais dispersores de sementes do bioma, que consomem suas frutas e os brotos que forram o solo da mata, sendo fundamentais para a nutrição das espécies de grande porte, como os mono-carvoeiros, as antas e seus predadores.

A extração do palmito de juçara ocorre há milhares de anos e remonta à ocupação da região, realizada por povos que praticavam o manejo de grandes áreas produtoras, através da preservação dos exemplares que exerciam o papel de matrizes de semente.

Após a chegada dos invasores europeus, a extração passou a ter o caráter predatório que perdura até os dias de hoje, colocando em risco sua existência e também do restante da floresta. Citado por Pero Vaz de Caminha em sua célebre carta enviada ao rei D. Manuel I, o palmito da Juçara é uma iguaria apreciada desde então e era parte importante da alimentação nos primeiros assentamentos portugueses.

Com a expansão das ocupações sobre o que outrora foi a exuberante Mata Atlântica, reduzida a pouco mais de 12% de sua área original, a Juçara tornou-se rara, sendo encontrada em abundância apenas no interior dos maiores remanescentes, sobretudo nos pontos de difícil acesso.

Um desses locais é o Continuum Ecológico de Paranapiacaba, formado pelos parques estaduais Carlos Botelho (PECB), Intervales (PEI), Nascentes do Paranapanema (PENAP), Turístico do Alto Ribeira (PETAR), Caverna do Diabo (PECD), pela estação ecológica Xitué e pelas áreas de preservação ambiental (APAs) Serra do Mar, Quilombos do mério Ribeira.

Contudo, mesmo com a proteção de tais unidades de conservação (UCs), o Continuum é alvo constante invasores, que praticam diversos crimes ambientais, como caça e captura de animais silvestres, mineração clandestina e extração de do palmito de juçara. A atividade de palmiteiros teve crescimento acentuado até os primeiros anos da década de 2010, como destaca o plano de manejo do PEI.

Um dos espetaculares salões da Caverna do Diabo, no município de Eldorado

“A extração ilegal de palmito no PEI, principalmente nas bases do Vale do Ribeira, tem aumentado nos últimos anos, o que faz com que o estado das populações das espécies cinegéticas e dependentes do palmito nestas áreas se tornem motivo de preocupação.” (Capítulo 3.4. Fatores impactantes, pg 644).

A partir desse período, devido à dificuldade cada vez maior para acessar bolsões de extração no interior da floresta, que passam a demandar mais de 10 horas de caminhada para serem alcançados, nota-se uma tendência de declínio no registro de ocorrências que perdura até o momento, embora a extração de juçara ainda seja considerada a atividade ilegal mais comum no interior dos parques.

Monoculturas da terra

É com esse pano de fundo que tem início o cultivo da pupunha em Saibadela, coincidindo com o declínio do corte da juçara, causado pelo avanço da fronteira de extração. A continuidade da rede de produção clandestina já estabelecida, que aos poucos vem sendo legalizada, possibilitou seu estabelecimento e posterior expansão, devido à concentração da demanda sobre a incipiente produção inicial.

Originária da região amazônica, a pupunha foi escolhida por conta de uma característica peculiar. Ao contrário da nativa juçara, que é morta ao ser derrubada, a pupunha brota em touceiras, permitindo que a produção seja contínua mediante cortes recorrentes, sem que haja necessidade de novos plantios.

Palmital de pupunha recém cortado para extração de palmito. A pupunha é a principal fonte de renda em Saibadela, mas causa problemas graves à comunidade

Paralelamente, o declínio da produção de bananas inicia-se com o esgotamento dos solos e consequente queda de produtividade, levando parte dos bananicultores a abandonar suas terras por não terem condições de financeiras de recuperar o solo. A situação agravou-se com a proliferação da Sigatoka Negra pelo Vale do Ribeira, doença causada por um fungo que a partir de meados de 2004 causa estragos recorrentes, devastando bananais inteiros.

Desse modo, embora haja uma correlação entre a expansão do cultivo de pupunha e o declínio do de banana, não houve uma substituição das áreas de cultivo. O plantio da pupunha vem sendo realizado em áreas desmatadas para esta finalidade, enquanto que diversos bananais foram abandonados.

Os impactos ambientais negativos de ambas monoculturas são inúmeros, sendo o desmatamento obviamente o mais grave, porém não é o único a causar preocupação, destacando-se a contaminação do solo, do lençol freático e corpos d’água, erosão e assoreamento de rios e córregos.

Apesar do bairro estar integralmente na APA (Área de Preservação Ambiental) da Serra do MAR, excetuando-se raras exceções, faz-se uso intenso e indiscriminado de agrotóxicos, pulverizados por aviões nos bananais, herbicidas, borrifados manualmente nos corredores dos palmitais, e fertilizantes químicos, para correção do solo.

A preservação de matas ciliares é ignorada na ampla maioria das propriedades, bem como a de áreas inclinadas. Por conta disso, a erosão das margens dos rios Saibadela e Quilombo, assoreamento de pequenos córregos e deslizamento de encostas são comuns.

Monoculturas da mente

Em relação aos aspectos socioeconômicos, a expansão da produção de palmito não foi acompanhada de melhora significativa dos índices de desenvolvimento humano, inclusive em termos de renda. Sobre este ponto específico, a ampliação da produção e oferta do palmito levou a uma queda considerável no preço.

Por conta da variação de preço, os produtores relatam que agora trabalham mais para faturar o mesmo que faturavam antes, sendo que muitos deles tiveram queda no faturamento por não conseguirem expandir a produção em suas terras.

No momento, o valor pago por “cabeça” de palmito, que pesa entre 0,8g e 1,0kg, é da ordem de R$2,50.

Sabendo que 1kg de palmito rende o envase de 4 vidros de 500ml, que tem preço em São Paulo, maior mercado consumidor, na faixa de R$25,00 cada, percebe-se que o agricultor é de longe o elo mais mal remunerado na cadeia de produção, ficando com 2,5% do valor final do produto, tendo, além do trabalho pesado, que arcar com o custo de herbicidas e fertilizantes.

Além da produção de banana e pupunha, existem alguns poucos estabelecimentos comerciais, como bares e vendinhas que atendem os moradores, não chegando a formar uma rede de serviços que dê conta de suprir as necessidades da comunidade.

Praticamente todos os mantimentos, bem como materiais de construção, eletrodomésticos e demais víveres são comprados em Sete Barras ou Registro. Por conta disso, não são poucas as vezes que seus moradores ficam desabastecidos, principalmente no verão em decorrência de alagamentos na estrada de terra que liga o bairro à estrada de acesso à cidade.

Um círculo virtuoso para derrubar os vícios

Devido a estes destaques e outros fatores de menor relevância, a microeconomia local encontra-se estagnada, produzindo um cenário de extrema pobreza e imobilidade social, no qual reproduzem-se os mesmos hábitos que intensificam a degradação ambiental, que por sua vez gera novos custos para o produtor, dando início a um novo ciclo de deterioração generalizada.

Para quebrar este círculo vicioso, temos a intensão de criar um fato novo na microeconomia local, inserindo um nova atividade econômica, que permita o início de uma diversificação sem a necessidade de investimentos vultuosos, mas que ocorra de forma estruturada e sustentável financeiramente.

Pela localização e características particulares de Saibadela, entendemos que o ecoturismo desempenhará bem tal função. Uma vez inserido, atrairá visitantes e com eles novos recursos, movimentando o contexto social local e criando empregos e negócios desvinculados das monoculturas de banana e pupunha.

Ao ganhar tração, permitirá que a comunidade gradualmente deixe de lado os velhos hábitos que degradam o meio ambiente, dando maior visibilidade ao verdadeiro valor da terra em que habitam e conscientizando seus moradores de que poderão ganhar muito mais se a floresta permanecer em pé.

O primeiro passo nessa direção foi dado com o lançamento da Operação Arquimedes, que tem por objetivo alavancar a economia local por meio do ecoturismo de base comunitária. A partir dela, duas campanhas já foram lançadas, sendo a primeira para viabilizar a construção de um novo centro de visitantes no parque estadual Intervales, que será a nova porta de entrada para os parques da região.

Já a segunda, irá reestruturar a trilha da Cachoeira do Quilombo, principal atrativo turístico da região. Esta será a primeira de uma série de trilhas que atualmente são utilizadas apenas para fiscalização, mas que passarão a receber visitantes e darão novo fôlego ao incipiente ecoturismo local.

Na sequência, uma vez que o ecoturismo tenha engrenado, iremos promover novas frentes para continuar o processo de diversificação econômica. Já estão sendo desenvolvidos projetos para transformação das monoculturas de pupunha e banana em agrofloresta, técnica mais adaptada ao clima e solo local.

Mais à frente, planeja-se a complementação da rede de serviços local, mas estes são assuntos para os capítulos futuros dessa jornada.

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