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Como manter a esperança?

Publicado em 15/04/2021
COVID-19 BR – Casos: 13.758.093/Óbitos: 365.954
Sem desculpas


Nas próximas duas semanas, o Brasil atingirá a marca de 400.000 mortos pela COVID-19.

O número é impressionante, mas para quem vem acompanhando os desdobramentos da pandemia, não chega a ser surpreendente. Não faltaram alertas de epidemiologistas e outros cientistas, que já enxergavam a catástrofe em seus modelos matemáticos. O que mais assusta é o fato que a soma não deve parar por aí.

Como representantes eleitos pela sociedade, governantes de todas as esferas poderiam ter agido mais rápido e de forma mais contundente, porém não o fizeram. Temeram uma eventual perda de capital político, que poderia ter sido causada pelas medidas impopulares que não foram adotadas.

Ao invés disso, optaram por correr atrás do rabo, gastando fortunas para equipar novos leitos de terapia intensiva e abastecê-las de médicos e medicamentos. Falharam vergonhosamente. O número de doentes superou rapidamente a capacidade de atenderem a demanda com novos leitos e milhares morreram sem atendimento adequado.

Hoje vemos gambiarras, falta de médicos intensivistas e remédios para intubar pacientes. Como resultado em alguns estados, o número de pessoas que morreram internadas na UTI é maior que o de sobreviventes e a expectativa de vida no Brasil já regrediu quase dois anos.

O caso do governo federal é ainda mais grave, pois o estrago causado pelas inúmeras ações contrárias aos esforços de combate à pandemia, supera em muito aos resultantes da omissão e negligência dos demais entes da união. Por conta disso, a discussão sobre a existência de um genocídio em curso está longe de ser absurda, por mais sinistra que possa parecer.

Apesar disso, os governantes não são os únicos culpados e temos que assumir nossa parcela de responsabilidade nesta calamidade, seja ela direta ou indireta.

Por um lado, nosso descaso com as orientações sanitárias básicas, como manter o distanciamento social e usar máscaras corretamente, não pode ser descartado na equação, pois também recebemos os mesmos alertas dos especialistas e tivemos tempo mais que suficiente para assimilá-los e mudarmos nosso comportamento, mas não o fizemos.

Por outro, aqueles que nos representam só detém o poder por conta de nossos votos. As escolhas do passado refletem nosso modo de agir e pensar, exaltando a supremacia da conveniência em detrimento da responsabilidade. Acusamos a corrupção alheia com veemência, mas será que temos lisura para tal?

Claro que há pessoas que precisam trabalhar e que existem situações em que o distanciamento social é inviável, sobretudo em moradias precárias na periferia ou no transporte coletivo lotado, contudo, após mais de um ano de pandemia, usar tal argumento para mascarar a falta de compromisso de grande parte da população com o controle da disseminação do vírus não cola mais.

De norte a sul do país, o egoísmo desvela-se. Máscaras são ignoradas ou utilizadas no queixo, aglomerações em locais públicos e privados se multiplicam, festas clandestinas desafiam as equipes de fiscalização e a intensificação da circulação de pessoas denuncia a indiferença com os mais vulneráveis.

Querendo ou não, são poucos os que podem ser considerados inocentes nesta tragédia.

Perdas irreparáveis

A falsa dualidade entre salvar a economia ou controlar a propagação do vírus ainda é defendida por tolos ou mal intencionados. Tal falácia vem cobrando seu preço, pois, sem controle, a pandemia continua a erodir o setor de serviços.

Enquanto os grandes conglomerados do agronegócio lucram com a alta do dólar, o mercado interno é desabastecido e o valor da cesta básica dispara. A industria também sofre com a alta dos custos de insumos, que se tornaram escassos, e inflação já é uma ameaça real para o bolso do trabalhador.

Mas por maior que sejam as perdas econômicas, sabemos que serão recuperadas algum tempo após o final da pandemia. Já as vidas perdidas jamais poderão ser reavidas. A cada pessoa que perdemos, uma luz se apaga, uma história se encerra prematuramente, uma família encolhe, uma tristeza desperta.

Perante o resultado até agora, está difícil acreditar que nossa sociedade está cultivando valores que nos levarão para um cenário pós-pandêmico melhor. Mais do que isso, o individualismo escancarado torna muito difícil confiar nas pessoas ao nosso redor. Então, como podemos manter a esperança?

A última que morre

A esperança de dias melhores dificilmente se apaga. Por mais que seja difícil lidar com o fato de estarmos presenciando mais de 4.000 pessoas morrendo por dia, há motivos para acreditar que os números irão melhorar.

A principal justificativa para essa crença é a campanha de vacinação, que, mesmo num ritmo modesto, aos poucos vai protegendo nossos idosos, que ainda são os mais vulneráveis ao vírus. Não surgindo uma nova cepa imune às vacinas já disponíveis, ao final do ano já teremos uma situação melhor.

Isso não quer dizer que há algo para comemorar, apenas que em algum momento iremos superar esse desafio e, enfim, parar de sofrer.

A fome, o desemprego e o endividamento da população também colocarão nossa sociedade à prova, mas a solidariedade, que não cansamos de ver surgir em todos os cantos do país, renova nossas expectativas por dias melhores.

Aqui na AFA, nossas atividades quase pararam num momento crucial para a sequência de nossos objetivos. Ainda assim, conseguimos colocar no ar a campanha para reestruturação da trilha da Cachoeira do Quilombo e atingimos 3 das 4 metas de nossa campanha de crowdfunding.

Isso mostra que, mesmo no pior momento da pandemia, há pessoas que acreditam em nosso projeto e veem valor em nossas ações. Com certeza, não somos os únicos surpreendidos positivamente neste cenário. Conhecemos muitas outras iniciativas que prosseguem trilhando seu caminho nestes tempos sombrios e que, assim como nós, sairão fortalecidas desta crise.

Nós, da AFA, da Associação de moradores de Saibadela e da Associação de Monitores Ambientais de Sete barras, agradecemos, do fundo de nossos corações, todos aqueles que contribuíram com a campanha. Iniciaremos a reestruturação da trilha assim que a pandemia permitir e estamos ansiosos para percorrê-la com vocês.

Continuem cuidando de si mesmos e daqueles ao seu redor e até o próximo post.

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