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Uma vocação natural
Publicado em 15/09/2019
Promessa é dívida
Prometemos para o pessoal que conhecemos em Saibadela que voltaríamos, então voltamos e nesta nova visita, fomos com um propósito específico: analisar o potencial turístico da região.
A motivação teve origem em nossos estudos de viabilidade, que apontam o turismo como peça chave para a necessária diversificação econômica que até o momento nos parece ser o gargalo do desenvolvimento local. As inúmeras conversas que tivemos com a Fundação Florestal e com os próprios moradores da comunidade parecem corroborar nossa hipótese.
Sendo assim, saímos de São Paulo com o objetivo de analisar as cachoeiras do Saibadela e do Quilombo, sendo que esta última já havíamos conhecido na primeira visita. Dessa vez, além da monitora ambiental Jéssica, fomos acompanhados também pelo Jefferson, um ex-palmiteiro que abandonou a ilegalidade para tornar-se monitor ambiental.
Após sairmos da mata, nos encontramos com o Sr. Paulo Ursulino da Mota, o Seu Paulinho, um dos funcionários mais antigo do Parque Intervales e provavelmente a pessoa que possui maior conhecimento sobre a região.
Cachoeiras de tirar o fôlego
As duas cachoeiras são bem diferentes, mas ambas são impressionantes. A Cachoeira do Quilombo apresenta um grande volume de água, que desmorona com violência sobre as pedras que se destacam na encosta. Já a do Saibadela, parece ter sido feita a mão, tão bonita que parece ser uma pintura de uma paisagem que não existe.
As trilhas que levam até elas possuem extensão similar, aproximadamente 2,5km, alternando trechos de subida íngreme e seções planas, dando oportunidade para que se retome o fôlego sem a necessidade de parar. A que dá acesso à do Quilombo inicia-se na base de mesmo nome, enquanto que a outra se inicia na base do Saibadela, que outrora abrigava equipes de pesquisadores que monitoravam a fauna.
Por ser mais utilizada, a trilha para a Cachoeira do Quilombo está melhor conservada, embora possa receber inúmeras melhorias, sobretudo em termos de segurança. Além da queda principal, que pode ser vista de perto a partir de uma clareira que serve de mirante, apresenta uma queda menor, acessível para banhos.
Outro ponto possível para banhos é o Poço Colorido, que ganhou este nome por conta da cor esverdeada de suas águas, que vai tornando-se mais intensa conforme aumenta a profundidade. Não é exagero afirmar que esta piscina natural, mais do que a cachoeira em si, é o ponto alto do passeio, ainda mais se for um dia quente de verão.
Fotos da trilha e da Cachoeira do Quilombo
A trilha para a Cachoeira do Saibadela praticamente desapareceu. Atualmente, ela só é percorrida pelos guardas do parque ao fazer a ronda, cuja frequência não permite que o traçado se conserve. Parte do trajeto é feito pelo próprio leito do Rio Saibadela, que possui menos da metade do volume de água em relação ao Rio do Quilombo, do qual é um afluente.
A maior parte do trajeto é plano, mas o trecho final da trilha possui uma subida íngreme, que eleva o nível do desafio, como se aumentasse o preço pela recompensa. E a recompensa vale muito. A cachoeira é formada por duas quedas, sendo a primeira maior, formada por um paredão de rocha branca que permite a água cair em queda livre num poço, do qual cai pela segunda queda menor e perpendicular à primeira, repousando numa piscina de pedras onde se esparrama tranquilamente.
Fotos da trilha e da Cachoeira do Saibadela
Difícil dizer qual delas é mais impressionante, mas é possível afirmar que as duas podem ser consideradas atrativos turísticos de primeira linha.
A enciclopédia humana de Intervales
Após conhecermos as cachoeiras, pudemos conversar algumas horas com o Seu Paulinho, que já trabalhava em Intervales antes que fosse transformado em parque, quando ainda era uma fazenda utilizada como colônia de férias pelo Banespa, seu antigo dono.
É desse período boa parte da infraestrutura que pode ser vista hoje na sede do parque, em Ribeirão Grande, incluindo parte das hospedarias e edifícios administrativos. Na época em que trabalhava na fazenda, Seu Paulinho nos contou que fez um pouco de tudo, mas que sempre gostou de se embrenhar pela mata, por isso acabou se tornando vigilante.
A Jéssica nos contou que boa parte das trilhas, hoje utilizadas pelos guardas e equipes de pesquisa, foram criadas por ele, mas ele desconversa por conta da modéstia. Fato é que pouca gente conhece Intervales como ele, sendo a principal referência em relação aos caminhos na selva.
Dentre as histórias e as risadas, aprendemos muito sobre o parque, a região e a Mata Atlântica. Também ouvimos que outras cachoeiras e mirantes acessíveis podem se tornar atrativos turísticos, caso tenham suas trilhas estruturadas para receber visitantes e era esta a principal informação que buscávamos.
Voltamos para São Paulo empolgados e com a sensação de missão cumprida com louvor, pois percebemos que o potencial da região é maior do que o imaginado previamente. Saibadela possui no ecoturismo sua vocação natural e estamos cada vez mais convencidos de que encontramos nossa comunidade piloto.